Todas As Vidas Importam: Existências LBTTGIAPN+ e Orgulho
TODAS AS VIDAS NEGRAS IMPORTAM: EXISTÊNCIAS LBTTGIAPN+ E ORGULHO
Segundo o estudo "Qual é a cor do invisível? A situação dos direitos humanos da população LGBTI negra no Brasil" (Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, 2020), existe um padrão de violações sistemáticas às pessoas LGBTI negras que as exclui do acesso à educação, à saúde e ao mercado formal de trabalho. Somadas a isso, a brutalidade policial, violências raciais e LGBTI+fóbicas associadas pioram a qualidade, esperança e expectativa de vida do grupo no país recordista em seu genocídio no mundo.
O estudo destaca que uma de suas limitações é contar apenas com os dados de violências atendidas e notificadas nos serviços de saúde via Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). "Portanto", afirmam os autores, "presume-se que há subnotificação dos casos e que os dados apresentados não revelam a prevalência de violência vivenciada pela população LGBT". Apesar disso, o índice apresentado é considerado mais abrangente do que os dados coletados em delegacias ou denúncias por telefone.
Correlacionando os números e perfis de quem são agentes protagonistas na luta por direitos básicos, o dossiê do Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos reitera que existem diferenças importantes na vivência sobre sexualidade e identidade, quando a questão é racializada – entre as experiências de pessoas LGBIAPN+ brancas e negras, cis, trans e travestis –. O mesmo estudo avalia esta dessemelhança por meio da tese defendida pelo pesquisador e ativista negro e gay da Rede Afro LGBT (BA) Washington Dias: "Há questões diferentes. Enquanto os gays brancos lutam por matrimônio e igualdade, a realidade para a imensa maioria dos negros gays é lutar pela sobrevivência", pontua.
Urge-se debater o genocídio da população negra, a desmilitarização da polícia, para além da formação em direitos humanos das forças de segurança, discutir e aperfeiçoar a produção estatística e efetuar reparações à série de violências historicamente perpetrada, já que o quadro afeta pessoas negras LGBTs e toda a negritude. Como consequência, a sociedade brasileira torna-se, em seu conjunto, algoz destas populações, porque reprodutora dos "armários", invisibilizações e apagamentos diversos. Estes debates entrecruzados nunca devem ser, portanto, apartados.
Fênix Zion, multiartista, pioneire alagoane, dançarine, professore de dança, produtore de moda, instrutore de passarela, stylist e escritore, fala sobre o movimento negro e cita Conceição Evaristo para falar de sua reeducação enquanto pessoa negra brasileira.
Fel Lara, criador da marca afrourbana Roupas Lara (@roupas.lara) e videomaker graduado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac, afirma: "Meu corpo é livre, minha identidade é livre e minha expressão é livre!".
Baobá, artista independente da música, teatro, canto, composição, performance e hairstylist, fala sobre avanços da luta LBTTGIAPN+, expectativas para o futuro e arte.
Will Oliver, compositora, artista não binário, pansexual e não monogâmica, fala sobre padronizações, falta de afeto, dores e traumas.
Fontes de pesquisa: Yahoo Notícias, Revista Galileu, Literafro, Them, Esqrever.
Glossário
Sorofobia: medo, aversão ou preconceito contra pessoas que vivem com HIV.
Xenofobia: medo ou desconfiança de pessoas estranhas àquele território, em geral, estrangeiras.
AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nosses convidades.
Fênix Zion – Multiartista, pioneire alagoane, dançarine, professore de dança, produtore de moda, instrutore de passarela, stylist e escritore.
Fel Lara – Criador da marca afrourbana Roupas Lara (@roupas.lara) e videomaker graduado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac.
Baobá – Artista independente da música, teatro, canto, composição, performance e hairstylist.
Will Oliver – Compositora, artista não binário, pansexual e não monogâmica.
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Presença Digital Negra - Black Digital Influencers
Com o uso expressivo das redes sociais na última década, a Internet possibilitou a descentralização e o maior consumo de informações, aspectos que geraram uma identificação imediata do público com produtores e produtoras de conteúdo em ambiente digital. Seja o dia a dia ou qualquer outro assunto a envolver o comportamento de tais perfis, os chamados "seguidores" e "seguidoras" permanecem diariamente atentos e atentas, por vezes durante 24h ininterruptas, às atualizações, garantindo audiência a quem deseja firmar-se referência em seus respectivos campos de atuação – ou não.
Enquanto novo meio de comunicação, as mídias digitais possibilitaram a ascensão de uma pluralidade de vozes, sedentas por mostrarem quem são, o que podem oferecer ao mundo e dialogar com os seus e suas iguais, como é o caso dos perfis on-line de personalidades negras. Entretanto, qual um mercado, os números se tornaram sinônimo de nível de influência e formação de opinião pública – entre seguidores(as), likes e comentários –, o que possibilita à audiência, em especial de companhias e marcas, amplo panorama de quanto um perfil pode impactar em seu meio.
Nossa convidada Yolanda Frutuoso, social media e produtora de conteúdo no Catraca Livre (Projeto Diversa), criadora do canal "Afrobetizando" (YouTube) e social media do projeto Bitonga Travel (coletivo de mulheres negras viajantes), afirma: "Meu projeto só existe graças às redes sociais, que possibilitaram este empoderamento estético e intelectual".
João Marcos da Silva Bigon, escritor e analista de Projetos de Educação e Letramento Racial no Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), professor de História, mestre em Relações Étnico-raciais (Cefet-RJ), produtor de conteúdo digital e educador social, afirma: "Este novo universo, esta nova linguagem que a internet desenha só revelam que o nosso povo é o povo da tecnologia".
Nossa convidada Paula Batista, jornalista, educadora antirracista, especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP), mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e criadora do "Ser antirracista" – onde se dedica à educação antirracista, letramento racial para a promoção da igualdade racial e combate ao racismo –, fala sobre a importância da representatividade no campo digital.
Fontes de pesquisa: Ceará Criolo, Veja Rio, Mundo Negro, Deezer, TramaWeb, Racismo Ambiental, Correio Braziliense, Elástica, Jota.info, Conexis, n-1 Edições, The Intercept.
O Canal Preto gostaria de agradecer às nossas convidadas e convidado.
João Marcos da Silva Bigon - Escritor e analista de Projetos de Educação e Letramento Racial no Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), professor de História, mestre em Relações Étnico-raciais (Cefet-RJ), produtor de conteúdo digital e educador social.
Paula Batista - Jornalista, educadora antirracista, especialista em Mídia, Informação e Cultura pela USP, mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp e criadora do "Ser antirracista", onde se dedica à educação antirracista, letramento racial para a promoção da igualdade racial e combate ao racismo.
Yolanda Frutuoso - Social media e produtora de conteúdo no Catraca Livre (Projeto Diversa), criadora do canal "Afrobetizando" (YouTube) e social media do Projeto Bitonga Travel, coletivo de mulheres negras viajantes.
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Empreendedorismo Negro e Novas Economias pela Revolução Estética
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, pessoas negras representam maioria no setor empreendedor. Entre 2002 e 2012, 50% dos(as) micro e pequenos(as) empresários(as) se autodeclararam pretos(as) ou pardos(as), enquanto 49% se autoafirmaram brancos. É a primeira vez que o número de empreendedores(as) afrodescendentes superou o de brancos(as).
Empreendendo em setores de menor lucratividade, como o agrícola, o ambulante e o cabeleireiro, negros e negras acumulam renda menor que a de empresários e empresárias não negros(as). O rendimento do empresariado branco, que domina o setor de máquinas e serviços de saúde, por exemplo, é 112% superior ao de seu congênere negro. A ex-ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Matilde Ribeiro, que exerceu seu mandato durante uma das duas gestões do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, afirma que "os indicadores do mercado de trabalho revelam que o empreendedorismo para a população negra surge e se mantém a partir das necessidades cotidianas, tendo em vista o racismo institucional muito presente no mundo do trabalho", conclui.
Ainda de acordo com os dados, 41% das pessoas pretas e pardas que exercem a atividade empreendedora estão no Nordeste, região onde o empreendedorismo negro predomina. O presidente do Sebrae, Luiz Barreto, afirma que o avanço de negros e negras como empresários e empresárias indica que as políticas sociais realizadas para este grupo têm se mostrado eficazes, pontuando também a criação da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI) como fator importante à atual realidade dos empreendedores negros e negras do país.
Nossa convidada Amanda Coelho, mais conhecida como Diva Green, mulher preta, mãe, artista capilar, trançadeira, peruqueira e mayakeira, afirma: "Eu crio minha empresa, que vem também para transbordar minhas experiências".
Carolina Pinto, advogada, empresária, gerente jurídica em uma empresa de tecnologia e fundadora do RAS – primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil –, fala sobre o campo digital, mercado financeiro e Black Money (ou dinheiro preto, produzido e circulado por, para e entre pessoas negras).
Nossa convidada Taynara Alves, formada em Gestão de Negócio e Inovação e sócia do RAS – primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil –, fala sobre memórias ancestrais, empreendedorismo negro e negócios de impacto.
Fontes de pesquisa: Sebrae, Primeiros Negros, Mundo Negro, Claudia, BagyBlog, Whow.
AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas.
O Canal Preto gostaria de agradecer às nossas convidadas.
Amanda Coelho (Diva Green) - Mulher preta, mãe, artista capilar, trançadeira, peruqueira e mayakeira.
Carolina Pinto - Advogada, empresária, gerente jurídica em uma empresa de tecnologia e fundadora do RAS, primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil.
Taynara Alves - Formada em Gestão de Negócio e Inovação e sócia do RAS, primeiro salão de luxo especializado em tranças do Brasil.
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Maternidades Negras
Nas produções histórico-teóricas dos feminismos brancos ocidentais, a maternidade fora, em geral, conceituada como entrave à participação de mulheres nas lutas políticas por equidade, acesso a melhores oportunidades de trabalho e à própria realização pessoal. Da mesma forma, em outros prismas teóricos, à maternidade já se atribuiu a condição de ferramenta do patriarcado no controle social dos corpos de mulheres e pessoas com útero, sexual e reprodutivamente fundamental à replicação da força de trabalho e sua sobre-exploração pelo capital.
No entanto, esta perspectiva universalizante do que é ser mulher, poder gestar ou maternar não é mais aceitável, em razão de pontos de vista epistemológicos outros e contribuições igualmente históricas, multifacetadas dos feminismos negro, indígena e decolonial, por exemplo, para as diásporas brasileiras. Assim, as problemáticas vivenciadas por mulheres, pessoas com útero, gestantes ou desta forma identificadas já não podem ser analisadas a partir de concepções feitas hegemônicas de feminismos ou outras teorias libertárias sobre mulheridades e maternalidades.
A maternidade, ou a maternagem, pode ser fonte de redenção, potência e afeto, mas também de opressão, sobretudo por conta dos efeitos colaterais da precarização das condições de vida que afetam mulheres e pessoas que gestam negras brasileiras.
Fontes de pesquisa: Cria para o Mundo, O mundo autista, Geledés, Revistas USP.
AGRADECIMENTO: O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas.
Luciana Viegas - Autista ativista. Mulher preta. Professora. TEDx Speaker. Colunista Revista Autismo. Idealizadora do Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).
Thainá Briggs - Assistente social formada pela UFF (foco em juventude periférica), gestora empresarial (MBA - Universidade Estácio de Sá), escritora, poetisa e coordenadora do premiado livro "Mães pretas. Maternidade solo e dororidade".
Sarah Carolina - Criadora de conteúdo digital, mãe de três filhos pretos, pedagoga e educadora (maternância negra e criação positiva real), historiadora e pesquisadora da parentalidade.
Marcele Oliver - Ativista, produtora, escritora, trancista e empreendedora social. Coordenadora editorial da obra "Tinha que ser preto" (Editora Conquista, 2022). Mãe, mulher e abrigo de Fayzah Badu.
Pollyne Avelino - Produtora e empreendedora. Idealizadora do Mães de Wakanda. Mãe de Malik Abayomi.
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Traumas Diaspóricos e Saúde Mental - Psicologia Preta, Traumas Histórico e Transgeracional
Ao limitar-se às conceituações brancas e europeias sobre saúde mental e sofrimento psíquico, a psicologia brasileira deixa de contemplar e tratar adequadamente 56% da população do país, compostas por negros e negras (IBGE). A subjetividade negra é ignorada na grande maioria das graduações em Psicologia, e um dos efeitos diretos disso são pacientes negros e negras vítimas de racismo pelos(as) profissionais que deveriam acolhê-los(as), incompreendidos(as) em suas questões, não escutados(as) e ouvidos(as) como pertencentes a um povo durante mais de 300 anos escravizado e só há 134 anos liberto.
Diversos intelectuais negros e negras dedicaram-se à produção de conhecimento sobre os efeitos do racismo nas subjetividades negras. Já na década de 1940, a psicanalista Virgínia Leone Bicudo (1910-2003) realizou uma vasta pesquisa com negros(as) ascendidos(as) socialmente em São Paulo, que resultou na dissertação de mestrado intitulada "Atitudes raciais de negros e mulatos em São Paulo" (1945). O psiquiatra martinicano Frantz O. Fanon (1925-1961) escreveu, em seu trabalho clínico e acadêmico, o livro "Pele negra, máscaras brancas" ("Peau noire, masques blancs", 1952), originalmente sua rejeitada tese de doutoramento agora tornada referência nos estudos em saúde mental da população negra. Nos anos 1960/1970, no trabalho de psicólogos negros, como Dr. Wade Nobles (Ifagbemi Sangodare, Nana Kwaku Berko I) e Na'im Akbar (nascido Luther Benjamin Weems Jr., 1944), surge, nos Estados Unidos, a Black Psychology, ou Psicologia Preta, qual sendo a construção de teorias e práticas em psicologia clínica à luz das subjetividades negras e a ancestralidade africana. Nos anos 1980, a psicóloga e psicanalista brasileira Neusa Santos Souza (1948-2008) escreveu o livro "Tornar-se negro, ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social" (1983), em que fez a releitura de conceitos fundamentais da psicanálise a partir da experiência negra. Não há espaço aqui para o levantamento de todas as publicações sobre saúde mental negra ao longo da história; elegemos essas por se tratar de publicações de autores e autoras pioneiros no tema.
Nossa convidada Andressa Cardoso, psicóloga (CRP 21/04104) graduada pelo Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA-PI) seguidora da linha de abordagem cognitivo-comportamental (TCC), com atendimento direcionado à ansiedade, luto, população negra, autoestima e autoconhecimento, fala sobre o fortalecimento das redes de saúde, priorizando as desigualdades étnico-raciais.
Shenia Karlsson, psicóloga clínica (membro efetiva da Ordem de Psicólogos de Portugal - OPP), mestre em Estudos Africanos pelo Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais (ISCSP, Universidade de Lisboa), colunista Revista Gerador, Diretora do Instituto da Mulher Negra de Portugal e cofundadora do Papo preta: saúde e bem-estar da mulher negra, afirma: "O conceito de traumas diaspóricos é uma experiência coletiva resultante de descontinuidades, desterritorialização, de movimentos migratórios, processos históricos, interrupções e distorções que geraram uma série de traumas na comunidade negra".
Nossa convidada Joice Modesto, psicóloga com nicho de atuação em saúde mental da população negra e relações étnico-raciais, fala sobre os traumas histórico, transgeracional e o trauma que permanece em curso.
Ariane Kwanza Tena, bacharel em Psicologia pela UFMT, mestre em Educação (UFMT/UFRRJ), com pesquisa em Psicologia Preta, fala sobre o fenômeno da psicologia moderna saída das ideias e abordagens ocidentais, citando Abdias Nascimento (1914-2011) e bell hooks (nascida Gloria Jean Watkins, 1952-2021).
Fontes de pesquisa: Afrofuturo, Amazon e "Vivendo de amor" (hooks, 1994).
O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas.
Andressa Cardoso - Psicóloga (CRP 21/04104) graduada pelo Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA-PI) seguidora da linha de abordagem cognitivo-comportamental (TCC), com atendimento direcionado à ansiedade, luto, população negra, autoestima e autoconhecimento.
Shenia Karlsson - Psicóloga clínica (membro efetiva da Ordem de Psicólogos de Portugal - OPP). Mestre em Estudos Africanos pelo Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais (ISCSP, Universidade de Lisboa). Colunista Revista Gerador. Diretora do Instituto da Mulher Negra de Portugal. Cofundadora do Papo preta: saúde e bem-estar da mulher negra.
Joice Modesto - Psicóloga com nicho de atuação em saúde mental da população negra e relações étnico-raciais.
Ariane Kwanza Tena - Bacharel em Psicologia pela UFMT. Mestre em Educação (UFMT/UFRRJ), com pesquisa em Psicologia Preta. Especialista em Psiconutrição (Unyleya) atuante na área de formação, pesquisa e clínica na perspectiva da Psicologia Preta.
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Amor Preto Enquanto Estratégia de Resistência
A intelectual e escritora bell hooks (nascida Gloria Jean Watkins, 1952-2021) tem vasta produção teórica a respeito do amor como elemento fundamental à disputa política e à sobrevivência (físico-espiritual, psíquica, material, subjetiva e emocional) da comunidade negra em diáspora. Este conceito é amplo e avança sobre relações afetivas não românticas, abarcando relações familial-parentais, de amizade e/ou travadas em quaisquer círculos sociais – embora a afetividade de tipo romântica (entre casais ou quaisquer outras formações semelhantes) também receba tratamento aprofundado.
Em muitas de suas elaborações, hooks defende, de diferentes formas, que a população negra precisa combater "a falta de amor" ("Vivendo de amor", 1994). As relações afetivas cumprem um importante papel de superação das violências impostas por sociedades racistas.
"Muitos negros, e especialmente as mulheres negras, se acostumaram a não ser amados e a se proteger da dor que isso causa, agindo como se somente as pessoas brancas ou outros ingênuos esperassem receber amor", escreveu a autora em 'Vivendo de amor' (1994). hooks encerra o texto, afirmando que "quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura".
Para Roger Cipó, fotógrafo, Ogan e influenciador crítico preto, "qualquer ação de amor preto é um ato de cura, proteção e cuidado".
Nosso convidado Renato Nogueira, escritor, professor de Filosofia do Departamento de Educação e Sociedade (UFRRJ) e ensaísta, fala sobre o amor como potência de restauração.
Tati Brandão, palestrante, mentora e professora de Liderança Inclusiva, com foco na afetividade e escutatória (aprender a escutar de forma profunda e empática), afirma: "Hoje em dia, falar de amor, viver em amor, transbordar afeto, exercitar afeto são atos de coragem".
Nosso convidado Adalberto Neto, jornalista, dramaturgo e influencer, vencedor dos Prêmios Shell, Ubuntu e Reconhecimento Popular pela peça "Oboró - Masculinidades negras", afirma: "O amor preto cura, porque esta troca de afeto entre pessoas iguais a nós só alimenta nossa autoestima".
Fontes de pesquisa: Mundo Negro, UOL, Geledés, Carol Society.
O Canal Preto gostaria de agradecer aos nossos convidados e convidada.
Renato Nogueira - Escritor, professor de Filosofia do Departamento de Educação e Sociedade (UFRRJ) e ensaísta.
Tati Brandão - Palestrante, mentora e professora de Liderança Inclusiva, com foco na afetividade e escutatória (aprender a escutar de forma profunda e empática).
Adalberto Neto - Jornalista, dramaturgo e influencer. Vencedor dos Prêmios Shell, Ubuntu e Reconhecimento Popular pela peça "Oboró - Masculinidades negras".
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Evasão Escolar - Um Risco À População Negra
Quase metade dos jovens negros de 19 a 24 anos não conseguiu concluir o Ensino Médio. De acordo com dados do IBGE, o índice de evasão escolar chega a ser de 44,2% entre os homens; um recorte de gênero e raça revela ainda que, sobre as mulheres negras da mesma faixa etária, o abandono escolar é uma realidade para 33% das jovens.
A evasão escolar geralmente ocorre por conta da necessidade de uma renda extra, pois a população negra sofre com o ingresso forçado ao mercado de trabalho, fazendo com que jovens abandonem o ambiente escolar para ajudarem a família a garantir uma renda básica e sobreviver.
Nossa convidada Joana Oscar, Gerente de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro, fala que ainda vivemos um resquício do processo de exclusão e marginalização tributário da escravização negro-africana no período colonial (1534-1822) e do período pós-abolição brasileiro (1888) e cita a necessidade de falar sobre acesso e garantia de permanência, aprendizagem e conclusão ao alunado da rede.
Dos Tabuleiros de Acarajé: Culinária Afro-Brasileira
As comidas e receitas de origem africana foram, depois de chegarem ao território brasileiro, modificadas em suas técnicas de preparo e adaptação de ingredientes, dando origem à culinária africana no Brasil – ou à gastronomia afro-brasileira.
O acarajé é a comida africana mais famosa e popular que temos no país: um bolinho feito de feijão fradinho e frito no azeite de dendê, recheado com vatapá, caruru, camarão e molho de pimenta. Seu nome tem origem na língua iorubá – "acará" (bola de fogo) e "jé" (ato de comer), acrescentado posteriormente – e começou a ser vendido em tabuleiros nas ruas de Salvador (séculos 18 e 19).
Nossa convidada Aline Chermoula, chef proprietária da Chermoula Cultura Culinária, pesquisadora da cozinha ancestral afrodiaspórica pelas Américas, professora na Gastromotiva, colunista Vogue Brasil e Site Mundo Negro, fala sobre a utilização das folhas na culinária africana, citando as mulheres quituteiras e ganhadeiras.
Kanu Akin Trindade, Om? Ògún, biólogo, engenheiro de produção, cofundador do Dida Bar e Restaurante, afirma: "Eu acho que, dentro da diáspora africana, o acarajé simboliza como qualquer coisa que eles façam, qualquer coisa que tenham feito não é forte o suficiente para separar a gente de África. O acarajé simboliza muita potência".
Mulheres e Meninas Negras nas TECH
Estudos apontam que, há décadas, o campo da tecnologia reproduz as desigualdades de gênero já observadas no cotidiano social, associando homens ao desenvolvimento de tecnologias e às carreiras tecnológicas, enquanto, e frequentemente, mulheres eram invisibilizadas em suas trajetórias no setor.
Infelizmente, ainda não existem dados precisos sobre o acesso da população negra às tecnologias e às ferramentas fornecidas pela Internet, tampouco seus hábitos de uso. Pesquisas de amplo espectro, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) – Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal, ou Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) em domicílios, por exemplo, não fazem recorte de raça. No que diz respeito às mulheres negras, especificamente, o Dossiê Mulheres negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013), e a Síntese de Indicadores Sociais (2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam para maiores restrições sentidas por mulheres negras em distintos segmentos, como acesso à moradia adequada, educação, proteção social, serviços de saneamento básico, tecnologias e comunicação.
A exclusão da população negra é sentida também no campo de estudos de gênero, ciências e tecnologias. Esta área de conhecimento é hegemonizada por pesquisadores predominantemente brancos e brancas. As lacunas também se apresentam nos recortes de pesquisa, que raramente se debruçam sobre a intersecção entre raça, gênero e tecnologia.
Escrevivências - Da Representatividade Negra Feminina na Literatura
ESCREVIVÊNCIAS – DA REPRESENTATIVIDADE NEGRA FEMININA NA LITERATURA
A literatura negra é a produção literária cujo sujeito da escrita é a própria pessoa negra. É a partir da subjetividade de negras e negros, de suas vivências e seu ponto de vista que se tecem as narrativas e poemas assim classificados (pela autoria e/ou enunciação negras).
A pessoa negra aparece na literatura brasileira mais como tema que como voz autoral. Logo, a maioria das produções literárias brasileiras retrata personagens negras sob perspectivas que evidenciam estereótipos da estética branca dominante, eurocêntrica. Trata-se de uma produção literária escrita majoritariamente elaborada por autores e autoras brancos e brancas, em que o negro ou negra é objeto de uma literatura reafirmadora de estigmas raciais.
Dona Ivone Lara - 100 Anos
D. IVONE LARA - 100 anos
Yvonne Lara da Costa (1922-2018), mais conhecida como Dona Ivone Lara, foi uma cantora, compositora e letrista brasileira, também denominada a "Grande Dama do Samba", e primeira mulher a integrar a ala de compositores(as) de uma escola de samba do grupo de elite do carnaval carioca, o G.R.E.S. Império Serrano. Formada em Enfermagem e Serviço Social (neste último curso, possivelmente, a primeira em todo país), Yvonne Lara teve papel importantíssimo na reforma psiquiátrica do Brasil, no bojo da luta antimanicomial, ao lado da médica psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). A artista lançou cerca de 15 discos e dezenas de sambas. Entre seus maiores sucessos, estão "Sonho meu" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), "Alguém me avisou" (Dona Ivone Lara) e "Acreditar" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho).
O Futuro das Cotas nas Universidades
A implantação das cotas sociais e raciais e demais ações afirmativas tem papel fundamental na diversificação racial dos corpos docente e discente dos bancos universitários (e do serviço público), na produção teórica/do conhecimento acadêmico-científico e de respostas mais complexas às questões sociais à brasileira, no avanço da justiça racial reparatória e de cidadania efetiva para as populações negras, incluindo-se quilombolas, e não negras historicamente subalternizadas pelo Estado – a exemplo dos povos indígenas e outras comunidades tradicionais (povos das águas, matas e florestas), pessoas com deficiência (PcD), trans e travestis.
NEGRITUDES, COLORISMO E REALIDADES RACIAIS À BRASILEIRA
Em um país altamente miscigenado, o colorismo organiza quase metade da população, distribuindo a sociedade em um gradiente de cores sob uma "mentalidade de superioridade branca".
Ainda é muito difícil falar sobre colorismo, sobretudo para quem tem alguma origem mestiça, pois é falar sobre sua própria história, compreender, aceitar que ela está relacionada com o processo de violência colonial escravagista por que a história do Brasil está assinalada e, muitas vezes, defrontar-se com esta realidade pode ser um processo doloroso.
Salvador, cidade diaspórica
iáspora atlântica. A incessante busca de África na Bahia.
A diáspora deve ser entendida como um fenômeno de deslocamento global de africanos e africanas no mundo. O deslocamento é entendido, assim, princípio da diáspora, por abarcar uma infinidade de elementos.
A noção de diáspora africana é um processo dinâmico que está e sempre esteve associado à memória viva da escravidão, à experiência e à luta contra o racismo, ao sentimento de dupla consciência no qual o sujeito encontra-se dividido entre duas realidades.
Literatura Infanto Juvenil Afrocentrada, Representação Negra e Representatividade
A literatura infantil tem muito a contribuir para a construção da identidade. Por isso, é essencial que haja cada vez mais personagens principais negros e negras na literatura, para que crianças e adolescentes possam se identificar e construir visões de mundo mais amplas e realistas.
Vivemos em um mundo tão diverso e rico por suas diferenças, que não faz sentido encontrarmos apenas uma pequena parcela da sociedade representada na literatura - pensando entre personagens e autoria destes livros.
Modernismo negro nas artes
A Semana de Arte Moderna teve como intuito transgredir o padrão eurocêntrico tradicional da época, em que apenas a elite branca fazia parte do seleto grupo de artistas. O movimento modernista não foi, porém, inclusivo, pois não representou a negritude brasileira, tampouco a comunidade indígena.
Março Negro: Marielle Franco, Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento
Em 14 de março, nasceram duas vidas negras que, de tão potentes, o racismo não conseguiu apagar. Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento nasceram no mesmo ano (1914) e cumpriram, ambos, uma caminhada de resistência traçada com arte, coragem e revolta. No mesmo dia, Marielle Franco foi brutalmente assassinada, fazendo com que, hoje, este dia nos mobilize contra o genocídio, a desigualdade, o preconceito e as inúmeras injustiças que assolam a população negra no Brasil.
A revolução feminina negra pelas afetividades
Como afirma bell hooks (1952-2021): "Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa, que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso".
Os impactos psicológicos deste preterimento são diversos e não se restringem exclusivamente aos relacionamentos amorosos; as amizades e o ambiente de trabalho podem gerar sentimentos que reforçam uma baixa autoestima da mulher negra.
Nossa convidada Caroline Moreira, consultora de diversidade racial, mentora, CEO e Founder Negras Plurais, afirma que "falar de afeto é também falar de cuidado".
Tati Cassiano, CEO e Founder Ubuntuyoga, afirma que "se permitir ser vulnerável é ser corajosa, a ponto de abraçar essa humanidade que nos é negada".
Nossa convidada Sueide Kintê, jornalista griô, consultora e produtora cultural, ativista pelos direitos humanos das mulheres negras e poetisa, afirma: "Naturalizar a frustação como algo genuíno do ser humano é uma coisa que nos acalenta".
Fontes de pesquisa: Geledés, Mundo Negro, Revista Marie Claire, Azmina, Redalyc.org e Correio Nagô.
O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossas convidadas:
Caroline Moreira (Consultora de diversidade racial, mentora, CEO e Founder Negras Plurais)
Tati Cassiano (CEO e Founder Ubuntuyoga)
Sueide Kintê (Jornalista griô, consultora e produtora cultural, ativista pelos direitos humanos das mulheres negras e poetisa)
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Carnaval, Cultura e Resistência
O Carnaval é cultura popular, fonte de liberdade de expressão, alegria, oportunidade e espaço de articulação e diálogo com a população, funcionando como instrumento de resistência e mudança social.
Como afirma nossa convidada Leci Brandão, cantora, compositora e política brasileira: "As mídias precisam olhar para os grupos de samba femininos. Temos muitos grupos de samba femininos, mas que não são divulgados".
Marcelo Argôlo, jornalista, pesquisador e idealizador do @popnegroba, afirma que "o carnaval de rua de Salvador é uma invenção da população negra".
João Jorge Rodrigues, presidente do Bloco Afro Olodum, afirma que "1983 é um marco da história do Olodum, por não ter desfilado e se reinventado".
Nossa convidada Millena Wainer, jornalista e cantora do G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel, conta-nos sobre sua vivência como cantora de samba e afirma que "o samba amplia meus horizontes, ele me faz ser uma pessoa melhor".
Fontes de pesquisas: Portal à Tarde, Correio Nagô, Museu Afro Rio, Agência Brasil, Laboratório Fantasma, Pop Prosa, Geledés, O Globo, Itaú Cultural, Revista Capitolina, Correio Braziliense, Fundação Cultural Palmares, Metrópoles, Pitaya Cultural, Tribuna de Minas, Efigênias, Revista Continente, Catraca Livre e Carnavalesco.
O Canal Preto gostaria de agradecer a participação de nossos convidados:
Leci Brandão (Cantora, compositora e política brasileira)
Marcelo Argôlo (Jornalista, pesquisador e idealizador do @popnegroba)
Millena Wainer (Jornalista e cantora do G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)
João Jorge Rodrigues (Presidente do Bloco Afro Olodum)
Racismo. Ou você combate, ou você faz parte. Qual dos dois é você?
Imigrantes e Refugiados Negros no Brasil
O Brasil é conhecido como uma nação acolhedora, porém tem dado passos em direção a uma política migratória mais restritiva. Nos últimos anos, o país testemunhou não apenas o estancar dos avanços, mas graves retrocessos, trazendo novamente à tona temas como as deportações sumárias e a criminalização da migração. No programa de hoje temos os convidados: DJ Dafro (DJ angolano); Lígia Margarida Gomes (Mestra em Desenvolvimento e Gestão Social, militante do movimento negro e membra da Diretoria da Sociedade Protetora dos Desvalidos - SPD): e Maria Cristina dos Anjos (Assessora Nacional para Migração - Cáritas brasileira).